É verão. E tanto o treinamento quanto a performance ficam prejudicadas em temperaturas elevadas. Os efeitos são muitos – e nítidos – para os atletas. Segundo o cardiologista Rodrigo Bodanese, da Care Club Porto Alegre, o aumento da temperatura corporal central faz elevar também o trabalho cardíaco (mensurado pela frequência cardíaca) e a percepção subjetiva de esforço. E estas condições tendem a piorar a performance. “Mas, mais preocupante que isso, no entanto, são as condições potencialmente graves associadas ao exercício intenso no calor, principalmente quando a umidade relativa do ar está alta”, diz Rodrigo. “O colapso pelo calor esforço induzido, ou Heat Stroke, é uma condição grave e potencialmente letal, caso não seja diagnosticado e tratado de pronto.”
O Heat Stroke ocorre, geralmente, em condições de calor extremo e alta umidade relativa do ar. Seu diagnóstico é feito por meio de aferição da temperatura corporal central (termômetro retal) acima de 40,5 graus. Esta alta temperatura frequentemente é acompanhada de funcionamento orgânico anormal, especialmente do sistema nervoso central. “O atleta pode ter confusão mental, perda de coordenação muscular e franco colapso”, explica Rodrigo. “O diagnóstico e tratamento precoces são essenciais e necessários para garantir uma evolução sem consequências sérias.”
Quando o quadro se instala, banho de imersão em água fria (entre 10 e 15 graus) é o tratamento indicado, e deve ser realizado já no local da prova ou treino, antes de qualquer transporte ou remoção para hospital. O resfriamento corporal deve ser alcançado preferencialmente 30 minutos após o diagnóstico, com um limiar de 60 minutos (acima disto é arriscado e potencialmente fatal).
Outra complicação grave da atividade física em altas temperaturas é a hiponatremia (concentração de sódio no sangue abaixo de 135 mg/dL), um distúrbio eletrolítico incomum, porém potencialmente grave. Ela é mais vaga e inespecífica que o Heat Stroke e não necessariamente ocorre logo após o pico do exercício, podendo se apresentar de maneira mais lenta. “Formas leves geralmente incluem confusão mental, falta de coordenação motora, náuseas e dor de cabeça”, diz Rodrigo. “As mais graves e de rápida evolução podem apresentar edema cerebral e crises convulsivas, edema pulmonar e até parada cardiorrespiratória.” A forma mais comum é a hiponatremia dilucional, causada pelo consumo excessivo de água sem reposição eletrolítica associada, em volumes elevados (800ml-1200ml/h), durante provas de endurance e ultra-endurance. “A restauração do nível correto de sódio no sangue pode ser realizada com soro hipertônico de reidratação oral ou endovenoso, dependendo dos sintomas apresentados e do nível mensurado da hiponatremia.
Segundo o cardiologista, algumas estratégias podem ser utilizadas para evitar essas condições. A consulta com um nutricionista para a correta reposição eletrolítica é primordial para prevenir desidratação e hiponatremia. Já para evitar o Heat Stroke, o principal é respeitar os sinais do corpo e, em dias muito quentes, começar os treinos de maneira gradual, respeitando um período de aclimatação. Estratégias de prova podem incluir o resfriamento pré-competição, com o consumo de bebidas geladas, o uso de coletes gelados e o resfriamento corporal com água gelada durante o exercício. Consulte sempre um médico do esporte, um cardiologista e um nutricionista e trace com eles estratégias de treino e nutricionais, a fim de garantir a sua segurança.