Quem nunca observou a diferença entre a largura do quadril de uma mulher e um homem? E qual mulher não ouviu falar que o tamanho dos seios pode interferir na posição da coluna e causar dor? Sem contar as variações hormonais do ciclo menstrual que fazem não só o ânimo para os treinos, o sono e a alimentação variarem bastante como também afetam a densidade dos ossos e o tecido elástico do corpo todo.
Esses são questionamentos que já sugerem o quanto as mulheres vivenciam a rotina de treinamento de uma forma alternativa a dos homens. Imaginem então se isso não influenciará no rendimento e na propensão a lesões. Como muitos desses fatores não poderão ser modificados sem cirurgias ou o uso de remédios de forma contínua, cuidar da postura se torna um elemento chave para toda mulher.
Uma boa postura no esporte significa conciliar um bom alinhamento corporal com uma boa estabilidade das articulações. Um bom posicionamento favorece a produção de energia sem que o corpo se exponha a sobrecargas desnecessárias. E assim podemos melhorar o rendimento e até prevenir lesões.
Pensando no ciclismo, o único objetivo do atleta é se deslocar rapidamente para frente através de pedaladas repetidas inúmeras vezes. “Ele quer chegar no outro extremo do percurso logo e, para isso, a melhor alternativa é fazer o caminho em linha reta. Lógico que as curvas da rua mudarão um pouco sua trajetória, mas o objetivo final da tarefa continuará sendo o mesmo para seu cérebro, que só quer chegar lá”, afirma Maria Cecília Martins, fisioterapeuta especialista em reeducação funcional da CareClub.
As articulações de seu corpo deverão então se mover da forma mais econômica possível para gerar essa propulsão linear, o que requer firmeza e precisão de movimentos. Por isso, ter uma boa postura estática não garante que o movimento será perfeito. Precisamos manter esse bom alinhamento durante a prática esportiva, enquanto cada articulação se move.
Na bike, isso significa empurrar o pedal em uma única direção, focando em fazê-lo girar para baixo num ritmo constante. “Agora se, por exemplo, meu joelho entrar, meu tornozelo dobrar demais, meu tronco ficar muito curvado ou eu estiver olhando para o nada, distraído, posso perder essa precisão na produção de força e gastar mais energia do que o necessário. Consequentemente, ficarei mais fadigado e terei um resultado aquém do que poderia”, afirma Cecília. O quadril largo da mulher aumenta a angulação entre o fêmur e a tíbia (os ossos da perna), fazendo com que seu joelho seja mais para dentro naturalmente. Seios muito grandes pesam e fazem com que a coluna fique mais curvada. A menor quantidade de testosterona no sexo feminino diminui nossa taxa de ganho de massa muscular e de geração de força. Ou seja, as mulheres já partem de uma condição menos favorável para pedalar. E se observarmos que essa perda de eficiência gera cargas extras nos ossos, articulações, tendões e músculos, entendemos por que as lesões acontecem e persistem.
Nosso corpo não gosta de cargas desalinhadas, pois tiram nosso eixo de absorção e produção de forças. E, enquanto essas sobrecargas existirem, estaremos expostos a lesões. Mais dia ou menos dia, aquela dorzinha aparece e pode não ir embora tão cedo se você não trabalhar essa questão. Treinar força ajudará a aprimorar a capacidade muscular de empurrar o pedal e aguentar maiores percursos com uma sobrecarga inerente ao corpo, mas não mudará seu alinhamento no movimento diretamente. É aí que entra a reeducação funcional, área da fisioterapia que trabalha justamente com a correção postural na atividade que traz dor ou perda de rendimento, independentemente se seu foco é profissional ou recreacional.
A reeducação funcional pode ajudar muito os amantes do pedal que vêm sofrendo a cada pedalada a aumentar seu conforto e vida útil no esporte. E se você é mulher, lembre-se de que o cuidado é muito importante. Na CareClub há profissionais especializados nesse tipo de fisioterapia. Confira alguns exercícios comuns nas aulas da Maria Cecília:
- Aprendendo a estabilizar a lombar na bike: sentado em um banco, empurrar contra o assento com os glúteos tentando “crescer o corpo em direção ao teto”. Inclinar o tronco para frente e para trás devagar utilizando o quadril como eixo do movimento, ou seja, sem deixar a lombar se curvar.
- Direcionando a força para girar o pedal: Sentado no banco, mantendo a mesma força de “crescer para o teto”, passar uma faixa elástica na ponta de um dos pés, deixando essa perna flexionada junto ao peito. Empurrar o elástico para frente com a ponta do pé, imaginando um movimento de extensão e flexão da perna em linha reta no ar.
- Aprendo a sustentar o corpo enquanto pedala: sentado em sua própria bike, ficar na posição de clip (em que o ciclista fica apoiado nos cotovelos) sem deixar a coluna flexionar e empurrar o pedal para baixo alternadamente com cada perna em ritmo lento. Tente sentir que seu corpo não balança para os lados.