ENTREVISTA PARA A REVISTA MALU – GESTAÇÃO
Com a Nutricionista Carolina Damy Ribeiro
Mulher grávida precisa comer “por dois”?
As grávidas não precisam e nem devem comer por dois, esta é uma lenda antiga que deve ser desconstruída, pois o principal foco é na qualidade da alimentação e na hidratação. No primeiro trimestre da gestação, ou seja, até a 12ª semana, não é necessário nenhum adicional calórico, a quantidade alimentar ingerida deve se manter como no período pré-gestacional. Já a partir do segundo trimestre, período em que o feto tem rápido crescimento, é recomendado o adicional de 250 a 300 kcal por dia, se o ganho de peso materno estiver adequado. Caso o ganho de peso da gestante estiver acima, essa quantidade de calorias não é adicionada, e caso estiver abaixo do adequado, a ingestão calórica é feita desde o início da gestação.
Quais os riscos dessa prática?
O consumo elevado de calorias por uma gestante, principalmente sem acompanhamento nutricional, pode ocasionar complicações. A mais comum delas, é o diabetes gestacional, situação em que a intolerância à glicose é diagnosticada, podendo levar ao parto prematuro ou mesmo a mortalidade fetal, e para a mãe aumenta-se o risco de pré-eclâmpsia e outras infecções. Os níveis glicêmicos da mãe após o nascimento do bebê, geralmente se normalizam, porém existem consequências para a criança como obesidade e resistência à insulina, e também o aumento da probabilidade do diabetes tipo 2 para a mesma na vida adulta.
Como consumir todos os nutrientes necessários sem exagerar na alimentação?
A alimentação de uma gestante deve ser equilibrada, bem organizada e acompanhada por um nutricionista. Como a demanda de nutrientes nesta fase é alta, a introdução da suplementação é necessária e feita de forma individual e de acordo com os parâmetros sanguíneos e de outros sintomas geralmente presentes na gestação, como as náuseas por exemplo. As gestantes precisam de várias refeições completas em nutrientes, e de menor volume ao longo do dia, com uma variedade de alimentos para suprir as recomendações, e assim levar ao feto tudo o que for necessário ao seu desenvolvimento.
Como controlar o peso durante a gravidez?
Com um acompanhamento nutricional e uma prática frequente de exercícios físicos, é possível controlar o peso na gestação e finalizá-la com saúde. Para isso, é fundamental ter uma alimentação saudável com qualidade nutricional e comida de verdade, além de orientações seguras para a rotina de atividade física. Dessa forma o ideal é que a gestante não ganhe peso no primeiro trimestre, já a partir do segundo, o ganho de peso recomendado é de 1 kg por mês, avançando de 1,5 a 2 kg por mês no terceiro trimestre, resultando em um total ideal de 11 kg. Importante lembrar que este ganho de peso é baseado em mulheres eutróficas (com peso adequado para a altura), em casos de baixo peso ou sobrepeso, estes parâmetros se diferem.
Quais os alimentos que devemos evitar na gravidez e quais devemos consumir mais?
Os principais alimentos que as gestantes devem evitar e/ou moderar o consumo são: cafeína (provinda diretamente do café, de chás como verde ou mate e de refrigerantes), alimentos estimulantes como canela e cacau, açúcares e adoçantes, e industrializados e processados em geral. Já em relação à restrição mais severa, temos o álcool, frutas e verduras mal higienizadas, carnes e peixes crus ou malpassados e produtos lácteos não pasteurizados. Ao contrário disso, existem nutrientes específicos que devem ser aumentados no período gestacional, como por exemplo, o ácido fólico presente em folhas verde escuras, alimentos como leguminosas e proteínas animais as quais são fontes de ferro, alimentos de cores fortes como mamão, abóbora, tomate, cenoura, que possuem altas quantidade de vitamina A, e peixes, sementes e castanhas que são fontes de ômega 3, zinco, cálcio e magnésio.
Sentir desejos de comer algo específico ou diferente na gravidez é mito ou verdade?
O desejo por alimentos específicos na gestação é um mito, as mudanças hormonais podem sim alterar a vontade e o paladar da gestante, mas não por alimentos específicos e sim por grupos alimentares, como uma maior vontade de carboidratos ou proteínas. A questão do desejo por alimentos específicos está mais relacionada com a parte mental, por exemplo, em gestantes com quadros de ansiedade. Já o desejo por algo diferente na gestação, pode acontecer, mas é um transtorno alimentar denominado de picamalácia, podendo estar associado a deficiências nutricionais de ferro, zinco, carboidratos e proteínas. Neste caso ocorrem desejos atípicos de consumir frutas não maduras, terra, giz, sabonete e outras combinações diferentes como melancia com manteiga ou tomate com chocolate.