O que é e mecanismo de lesão
A Entorse de tornozelo pode ocorrer na rotina de qualquer pessoa, mas tem significativa importância, principalmente, àqueles praticantes de atividade física. Estudos relatam uma frequência ao redor de 30% de todos os traumatismos sofridos pelos esportistas.
Em cerca de 75% dos casos ocorrem o comprometimento dos ligamentos laterais, ligados à Fíbula. Majoritariamente os mais acometidos são os ligamentos fibulotalar anterior (ou talofibular anterior) e fibulocalcaneo e, em menor proporção, o ligamento fibulotalar posterior (ou talofibular posterior). Nos outros 25% restantes, há o dano das estruturas ligamentares mediais – lado interno do tornozelo – sobretudo o ligamento deltóide.
Essa maior proporção em favor da lesão lateral é justificada, principalmente, pelo posicionamento do pé estar aduzido e flexionado (rodado para dentro) durante o mecanismo de trauma rotacional, seguido por um giro forçado do tornozelo em rotação externa (para fora).
Os sintomas e a avaliação clínica
Clinicamente, assim que o movimento acontece, o indivíduo sente uma dor aguda, súbitda e por muitas vezes intensa. A partir de então, uma sequência de eventos pode se suceder. Inicialmente, a pessoa refere dificuldade (por vezes até incapacidade) de apoiar o pé ao solo devido ao agravamento da dor, passa a caminhar com dificuldades e nota-se a formação de edema (“inchaço”) bem localizado na região lateral, o qual pode se espalhar para todo o tornozelo e pé. Além disso, podem surgir manchas arroxeadas (hematomas ou equimoses) que, progressivamente, espalham-se para outras regiões do pé e dedos.
Durante a avaliação, o médico procura identificar não só quais estruturas ligamentares do tornozelo foram afetadas, como também as lesões associadas desencadeadas pelo mesmo mecanismo de trauma, como fraturas de ossos do pé, lesão da articulação e demais ligamentos da sindesmose (articulação entre a Tíbia e Fíbula), lesões tendíneas (de Aquiles, Fibulares, Tibiais) e na cartilagem. A rotina da avaliação clínica engloba a inspeção do aspecto da articulação, a realização da palpação e testes provocativos da estabilidade ligamentar, como por exemplo os testes da Gaveta anterior e Inclinação lateral e medial.
Em alguns casos, principalmente quando os sintomas de dor e edema são muito intensos, o médico pode optar por realizar os testes que avaliam a estabilidade em outro momento, pois a as suas presenças podem falsear o seu resultado e diminuir sua acurácia (chegam até a 96% de precisão quando avaliados em boas condições).
Caberá ao médico decidir a respeito da necessidade de solicitar exames complementares de imagem, os quais contribuem para a identificação das estruturas acometidas. Existem indicações precisas para se solicitar tanto as radiografias, quanto outros exames de maior complexidade como a Tomografia Computadorizada ou a Ressonância Magnética.
Classificação
Uma das classificações mais empregadas na prática avalia conjuntamente os sintomas relatados pelo paciente, os achados clínicos encontrados durante o atendimento e as lesões anatômicas sofridas. Esta estratificação da gravidade de cada caso auxilia na proposta do tratamento necessário.
GRAU | GRAVIDADE | ESTRUTURAS ACOMETIDAS | ACHADOS CLÍNICOS |
Grau I | Leve | Estiramento do ligamento Fibulotalar anterior | Dor e edema leve, equimose sutil, consegue apoiar o pé no chão, testes de estabilidade articular preservados |
Grau II | Moderada | Lesão completa do LFTA e lesão parcial do ligamento Fibulocalcaneo | Dor e edema e moderado, equimose marcante, dor anterolateral, algum grau de instabilidade aos testes |
Grau III | Grave | Lesão completa dos LFTA e LFC | Dor, edema e equimose exuberante, tornozelo instável aos testes |
O tratamento e os prazos de recuperação
A opção pelo tratamento a ser empregado deve considerar se o episódio é agudo, único, ou se é crônico, recorrente.
Para os casos agudos, o tratamento preconizado é reabilitação por meio de Fisioterapia e é preconizado que o seu início seja o mais rápido possível. Conceitos atuais determinam que o processo de recuperação seja funcional e gradativo. Inicia-se com técnicas fisioterápicas que promovam controle da inflamação e da dor, como a compressão pneumática associada a crioterapia (gelo), entre outros. Conforme o paciente relata melhora, o profissional progride inserindo exercícios que buscam o restabelecimento da força muscular e da propriocepção (grau de confiança) articular.
O uso de imobilizadores pode ser necessário para proporcionar a descarga de peso ou agregar maior estabilidade. Contudo, tão logo haja uma melhora dos sintomas, o uso deve ser descontinuado, já que podem contribuir para o enfraquecimento e desequilíbrio da musculatura quando usados em excesso.
Apenas para os casos recorrentes, chamados de Instabilidade Ligamentar do Tornozelo, em que a cicatrização ocorrida anteriormente não conseguiu prover a estabilidade necessária para a articulação, a cirurgia pode ser considerada. A justificativa está no fato de que a cada novo episódio de Entorse sofrida, aumenta-se consideravelmente os riscos de desenvolver lesões associadas ao acometimento ligamentar, principalmente as roturas tendíneas, as fraturas, as degenerações de cartilagem e a osteoartrose (desgaste).
O prazo para a conclusão de todo o processo terapêutico dos casos agudos é individualizado, mas, em geral, entende-se que pode levar entre uma a duas semanas para as Entorses grau I; entre duas a quatro semanas para os casos Grau II; e de quatro a seis semanas para os casos de Grau III.
Para um tratamento completo entre em contato com a unidade Care Club mais próxima.