De tempos e tempos a mídia e os influenciadores digitais elegem a dieta da vez. Agora parece ser a cetogênica a salvadora da pátria. Mas será que ela é tudo isso? E mais: seria sustentável em longo prazo? Para responder a estas e outras dúvidas, consultamos o nutricionista esportivo da CareClub Humberto Nicastro. Confira a seguir!

Afinal, o que seria dieta cetogênica?

A ideia é estimular o uso de gorduras como fonte primária de energia. Aliás, ela recebe esse nome justamente porque induz o corpo a um estado de cetose, quando ele passa a usar gordura como fonte de energia no lugar do açúcar (carboidrato). Na prática, isso se refletiria em perda de gordura e, consequentemente, redução de peso corporal.

Existem alguns tipos de dieta cetogênica, mas a mais comum é aquela com muita gordura e pouquíssimo carboidrato. Nesse caso, a pessoa deve ingerir até 60 gramas de carboidratos por dia (~10% da ingestão total), 20% de proteínas e 70% de gorduras. Ou seja, os alimentos que são priorizados são as oleaginosas (castanhas), farinhas ricas em gordura (por exemplo, linhaça e chia) e frutas oleosas (abacate, coco, o fruto do açaí). A restrição moderada acaba ficando com carnes, frangos, peixes e ovo e, a restrição severa, com frutas e demais carboidratos.

O jejum intermitente é outro tipo de dieta cetogênica. Nesse caso, não há restrição de grupos alimentares, mas a pessoa se alimenta com menor frequência, geralmente a cada 12, 16 ou 20 horas. E ela também entraria em cetose.

Para quem ela é mais indicada?

Em geral, ela é usada por um curto período, como uma espécie de “manobra nutricional”, ou seja, para corrigir desordens metabólicas como diabetes, resistência à insulina e hipertensão. A dieta cetogênica rica em gordura ainda tem um potencial terapêutico em casos de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.

Mas seria possível manter a dieta cetogênica por um longo tempo ou até fazer dela um estilo de vida?

São muitos os fatores que determinam se é ou não possível. Porém, se a pessoa apresentar bom paladar para a gordura, já seria mais viável. E, para a dieta não cair na monotonia, a pessoa teria que cozinhar, ou seja, aprender a preparar variações low carb de tortas, massas, bolos, pizzas e outros itens que fazem parte do nosso cotidiano. Digo isso porque poucos restaurantes já oferecem essas versões e os itens disponíveis nos supermercados são mais caros que os convencionais. É preciso ter em mente que o nosso padrão alimentar impacta nossas vidas emocional e social, e adotar a dieta cetogênica pode dificultar o lado social.

Quem treina para longas distâncias pode aderir à dieta?

Desempenho esportivo é uma variável que depende da ingestão de carboidratos. Restringir a ingestão, seja pela privação do número de refeições ou pelo menor consumo de pães, cereais, tubérculos e raízes, irá impactar direta e negativamente no desempenho esportivo. Alguns trabalhos recentes com corredores demonstram queda de performance (tempo de exaustão) em comparação a uma dieta comum. Além disso, carboidratos são os nutrientes primários para o processo de hipertrofia muscular. Aumentar a massa muscular com tais dietas é um tanto quanto complicado. Pode não haver perda de tecido muscular (efeito anti-catabólico), mas certamente o aumento de volume muscular com a privação de carboidratos não ocorre. Além disso, por ser pobre em carboidratos, consequentemente é pobre em fibras alimentares, o que também pode prejudicar a saúde e o funcionamento intestinal.