Ele tem na ponta da língua a data: 08 de julho de 2011. Nesse dia, o paulistano Dário Rodrigues de Souza, 27 anos, sofreu um grave acidente de carro, fraturando cinco vértebras e lesionando a medula. “Fiquei tetraplégico. No começo, eu não conseguia nem mexer os ombros e não falava por causa da traqueostomia”, relembra. Dário passou então por três internações e, na segunda, no início de 2015, seu médico sinalizou a possibilidade da cirurgia. Intervenções cirúrgicas já são realizadas no exterior, mas ainda pouco utilizadas no Brasil.

            “Fiquei com receio, já que tenho medo de injeção, de anestesia”, conta. “Mas meu médico então explicou que minha mão voltaria a ser funcional e eu tomei coragem”. Dário foi então encaminhado para o grupo de mão e microcirurgia do Hospital das Clínicas, do qual a ortopedista da CareClub Renata Paulos é cirurgiã. “Fiz residência em ortopedia e traumatologia no HC e estive na Europa por dois anos me especializando em cirurgia da mão. Foi nesse período que tive bastante contato com tratamento cirúrgico de pacientes tetraplégicos”, ela conta.

                        Para realizar a operação, o paciente deve ter algum movimento nos membros superiores e, felizmente, esse era o caso de Dário. “Ele já conseguia realizar muitas atividades, mas só as realizava com o uso de adaptações”, conta Renata. “Nós fizemos transferências musculares/tendíneas para que ele passasse a ter movimento de pinça e preensão fortes e também um procedimento chamado artrodese (fusão de uma articulação) para melhorar o posicionamento do polegar e para que o mesmo ficasse mais firme para realizar a pinça”.

            Foram duas cirurgias: primeiro no lado direito, em agosto de 2015, já que era o lado que ele menos utilizava e, depois da recuperação e com o bom resultado, no lado esquerdo, em setembro de 2016. “Após a primeira cirurgia, já pude fazer várias coisas que não conseguia antes como: comer, escrever, fazer a barba, pegar o copo com uma mão só. Com a segunda cirurgia ganhei uma grande independência, consigo inclusive dirigir”, conta Dário.

            Dário passou então para a reabilitação com fisioterapeutas e terapeutas da mão. “Ele é um paciente muito motivado e segue à risca todas as orientações”, diz Renata. E esse trabalho é fundamental para o sucesso da cirurgia. “Ele aprende como realizar determinado movimento com um músculo que antes exercia outra função. E faz fortalecimento da musculatura transferida”.

            Agora que já é uma pessoa mais independente, Dário pretende retomar a prática esportiva. “Fazia academia, surfe e, às vezes jogava futebol. Estou fazendo tratamento para fechar uma lesão na pele das costas e poder voltar à ativa!”, conta ele. “E nossa meta é divulgar a possibilidade do tratamento para que mais pacientes possam melhorar função e atingir o maior grau de independência possível”, afirma Renata.