Nosso cliente Igor Meskelis correu no domingo (3 de junho) os 86 km e 730 metros que separam Durban e Pietermaritzburg, na África do Sul, na ultramaratona mais famosa do planeta, a Comrades. Ele conta a seguir como foi sua experiência.

“Organização, solidariedade, envolvimento e humildade são coisas que fazem muita diferença nesta prova. Acordei às 3h30 da manhã para me preparar para a largada, às 5h30, ainda no escuro.  São 20 mil pessoas alinhadas e muita emoção. A largada é brilhante, com uma projeção em laser do LOGO da Comrades e músicas tocando, como Carruagens de Fogo. Os primeiros 7 km foram duros para mim, acho que tinha comido demais e demorei a engrenar.

Comecei bem conservador, dentro do meu plano, que era completar entre 9h e 10h de prova. Quando o dia começou a clarear, não havia uma única nuvem no céu. E o ar estava bem seco. Desde o início, sabendo que faria calor, segui à risca a recomendação de tomar 800ml de água por hora de corrida, além de cápsulas de sal.

Na primeira das cinco subidas da prova, as Big Five Hills, eu fui bem. Me segurei. A partir do km 10 engrenei o ritmo e estava mais solto. Do 19 ao 40, a gente passa pela segunda subida já mais preocupado. Fazia mais calor e as pernas já começavam a incomodar. Mas segui firme.

No km 40 estava mais confiante, correndo solto. Ali ganhei segurança. Passei a terceira Big Five certo de que chegaria ao final. Tomei uma dose de proteína e segui rigorosamente o que tinha planejado para suplementação.

Do 44 ao 55 fui bem, mas então o calor pegou e a casa caiu.  Musculatura doendo, temperatura alta e ainda faltando muito chão. Uma coisa que fiz e que me ajudou muito foi pensar em um amigo diferente a cada quilômetro da prova. Eles iam me dando força, me acompanhando.

Então veio o trecho mais emocionante da prova, quando a gente passa por um orfanato e vê as crianças todas na rua, nos incentivando. A Comrades é o evento do ano para elas, é quando elas têm contato com o lado de fora. Bater naquelas mãozinhas ajuda a gente a ver o real valor da vida e ganhei força. Antes da prova eu já sabia que, se conseguisse chegar até lá, aquelas crianças me carregariam até o fim da prova. E foi isso mesmo.

No km 63 eu já não queria papo com ninguém, nem foto, nem olhar para o lado. É o momento da luta pela sobrevivência. A gente esquece o relógio e tudo o que está acontecendo em volta. Pensei em tudo que planejei, treinei, o que deixei para trás para estar ali. Sentia uma dor tremenda nas pernas e nos pés, e ainda faltava muito chão. Mas acreditei.

As placas de quilometragem ao longo da prova são decrescentes. Quando vi a de 15km percebi que não só eu ia chegar, como ia chegar com um tempo dentro do planejado. Então comecei a chorar muito, a agradecer. Mas inda faltava a última Big Five. Longa. Dura. Quando cheguei no topo relaxei. Chegaria nem que fosse rolando.

Quando avistei a placa de 2 km comecei a ouvir o barulho do locutor e do público. E chorei de novo. É uma emoção muito forte. Já corri 15 maratonas, mas nunca tinha sentido nada parecido. Cruzei a linha aos prantos.

A medalha da Comrades é a menor de todas que já recebi, tem o tamanho de uma moedinha. Mas resume o maior feito da minha vida, o maior objetivo que eu cumpri. O maior aprendizado é o de humildade e respeito pela prova. Levo desta experiência que, na vida, a gente não conquista nada sozinho. A Comrades é ultra não só pela quilometragem do percurso. É ultra pelo apoio que tive, por toda camaradagem, a organização que vi, a emoção que senti. É ultra pelo tamanho da minha gratidão.