1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida. Não bastassem os desafios das distâncias de um Ironman 70.3, no último domingo, no Rio de Janeiro, Sergio Kawasaki teria um ainda maior pela frente: uma lesão na panturrilha esquerda. Duas semanas antes da sua estreia num meio Ironman, correndo uma meia maratona, seu último treino longo do ciclo, ele sentiu a fisgada. “Eu estava no km 12 e resolvi seguir caminhando até o final, o que sem dúvida foi um erro enorme para quem dali 15 dias tinha uma prova dura”, conta Sergio.
Para piorar o quadro, ele já havia passado, em junho, por uma lesão em outro músculo da panturrilha. Após duas semanas de tratamento com o fisioterapeuta João Leonardo, na Care Club Ipanema, havia se recuperado totalmente. “Os treinos estavam indo muito bem até aquela fisgada. Voltei à Care Club e começamos uma luta contra o tempo.” Foram dez dias de fisioterapia diária e sessões de recovery, além de atendimento com o ortopedista Christiano Cinelli. “Fui atendido por toda a equipe, na verdade, um apoio que foi fundamental para eu me recuperar para fazer a prova.”
Depois de dez dias apenas nadando dia sim, dia não, Sergio foi liberado para rodar de bicicleta e correr. “Eu sabia que a musculatura estava melhor, mas precisava ir para a rua para a cabeça ficar tranquila e eu ter certeza de que daria. Fiz um pedal leve na terça e 8km de corrida na quarta, quatro dias antes da prova. Consegui a autoconfiança que faltava.”
A expectativa e a torcida para domingo eram que tivesse uma temperatura boa, dia sem sol, sem vento e com mar tranquilo. Mas a realidade foi outra, amanheceu chovendo, e o mar estava agitado. “É incrível como, quando a gente tem um problema maior, no meu caso a lesão, isso passa desapercebido. Eu nem olhei para o mar, só senti que estava complicado quando já estava lá dentro”, diz Sergio. “Ainda assim, fiz uma natação sem problemas. Saí da água já atento à panturrilha, sem correr na transição para me poupar. Eu poucas vezes havia pedalado com chuva na cabeça o tempo inteiro, e foi assim no domingo. Três horas seguidas de pedal com chuva.”
E então veio a corrida. “Assim que comecei senti uma dor na panturrilha e achei que não ia dar. Foi preciso ajustar mais a cabeça do que as pernas, para ir adiante. E consegui.” Sergio conta que a estratégia foi seguir um ritmo confortável e mais seguro do que o seu habitual, respeitando seus limites. “Terminei a prova correndo bem e muito feliz. Foi uma sensação incrível poder cruzar o pórtico com meus filhos lá me esperando, como eu tinha planejado três meses antes.”
Prova, treinos longos e duas lesões trouxeram para Sergio vários ensinamentos. “Aprendi, por exemplo, que em endurance é fundamental ter uma boa estratégia de hidratação e suplementação e a Kerolyn Valente, minha nutri, foi importantíssima no processo ”, ele diz. “Mas a principal lição foi sentir na pele que a maior vitória, ali, é com a gente mesmo. Sempre com muito foco, determinação e cabeça para chegar até o final.”